quarta-feira, 3 de outubro de 2007

No deslizar do ônibus, uma música

- "Hoje eu tive um sonho que foi o mais bonito
Que eu sonhei em toda a minha vida
Sonhei que todo mundo vivia preocupado
Tentando encontrar uma saída
Quando em minha porta alguém tocou
Sem que ela se abrisse ele entrou
E era algo tão divino, luz em forma de menino
Que uma canção me ensinou"
Vai, maxo. O lá lá lá - exigiu o homem de camisa bicolor que empostara a voz pra cantar a estrofe.
- Lá lá lá lá lá lá... - obedeceu o outro, sentado logo atrás, sem muita empolgação.

Eles não seguiam nenhuma música que tocava no rádio. Simplesmente, eles somaram ao barulho do motor do Grande Circular 2 suas vozes. Em um ambiente em que as pessoas escondem suas expressões e fingem não ouvir nada com seus mp3 nos ouvidos, a canção que eles cantavam fez com que alguns virassem o pescoço pra olhar e outros rissem. O ônibus estava vago e a voz empostada do cantor mais o jeito envergonhado do amigo ecoaram.

- "Tinha na inocência a sabedoria
Da simplicidade e me dizia
Que tudo é mais forte quando todos cantam
A mesma canção e que eu devia
Ensinar a todos por ali
E quantos mais houvessem para ouvir
E a fé em cada coração, na força daquela canção
Seria ouvida lá no céu por Deus"
Agora o lá lá lá - indicou de novo o senhor
- Lá lá lá lá lá lá... - cantou o amigo de trás, meio desafinado. Ele parou e não cantou o restante do coro.
- Vai, maxo, serve pelo menos pra alguma coisa - reclamou o senhor

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