sábado, 29 de dezembro de 2007

Novo endereço









Caro leitor,

Mudei-me para o Wordpress.

Meu novo endereço é

www.urbebandida.wordpress.com

Obrigada!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

O mundo está falando. Você está ouvindo?

O título deste post é o slogan do site Global Voices, que reúne artigos de pessoas de todos os cantos do mundo. Dentre os países representados, quero destacar um: Paquistão, o que está hoje na capa dos jornais por conta do assassinato da ex-primeira ministra e líder política Benazir Bhutto. Na quele país, o presidente Pervez Musharraf impôs grandes restrições à prática do jornalismo. Para não se calar, o povo fala através de blogs - são esses os principais veículos de notícias do país. Mesmo assim, os censores encontraram uma forma de agir contra as vozes e bloquearam o IP de sites provedores de blogs como o Blogspot - este de que me utilizo. Felizmente, a ação pôde ser revertida pelo grupo que gerencia o site, Google Inc., que modificou o IP de forma que os blogs sejam novamente acessados.

A força de vontade do povo paquistanês me fez ponderar. Quando nos encontramos em situações de emergência, conseguimos nos superar utilizando as mais variadas ferramentas que tivermos nas mãos. Enquanto a maioria de nós utiliza o blog para dividir nossos pensamentos subjetivos e afagar nossa vaidade e amor próprio, povos injustiçados como o do Paquistão expressam sua indignação e protesto. A Imprensa é mesmo um poder muito machucado...

Confira os blogs Don't Block the Blog e Teeth Maestro, que tratam de assuntos do Paquistão, dentre eles a questão da censura à imprensa.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

No balanço da CPMF

A Contribuição Provisória [que estava à beira do Permanente] por Movimentação Financeira [a famigerada CPMF] chegou a seu fim, mas não a repercussão sobre as conseqüências. O Governo, pelo que indicam as falas dos ministros da Fazenda, Guido Mantega, do Planejamento, Paulo Bernardo, e do próprio presidente Lula, não sabem o que fazer para compensar a tal perda dos R$ 40 bilhões. Todo dia, surge um dizendo alguma coisa.

Guido Mantega disse que seria necessário criar um novo tributo parecido com a CPMF e acabou sendo repreendido por Lula - para ele, isso foi invenção dos jornais, mas o que se interpretaria quando o presidente da República diz que "ele vai ter de me convencer da necessidade disso. Ele falou para vocês (jornalistas) e agora vai ter de colocar na minha mesa" e que "não existe nenhuma razão para que alguém faça a loucura de tentar aumentar a carga tributária"?

De fato, todo mundo cairia em cima rasgando tudo! De um lado, houve o egoísmo da oposição em se mobilizar e derrubar a aprovação do tributo - não tinha nada a ver com livrar a população de uma das facadas que o Governo dá no nosso bolso, mas sim com a sensação de dar um golpe na situação -, de outro, a responsabilidade do Governo de rever as contas e cortar gastos. Sugiro que esse corte comece pelo salário dos parlamentares e pelos benefícios ridículos a que eles têm direito. Espero, embora R$ 40 bilhões vão fazer uma falta danada, que se tenha a oportunidade de se olhar o orçamento com mais lucidez.


domingo, 16 de dezembro de 2007

Vamos parar para ouvir a voz do Centro

Fui ao Centro da cidade ontem à tarde com minha mãe. Sempre que se vai ao Centro, algo precisa ser adquirido, na maioria das vezes; comigo não foi diferente. Período de Natal e aquela confusão. Confraternização mesmo só em casa, com roupa nova e ceia com peru e coca-cola. Nas ruas do Centro, a lei é passar na frente pra chegar logo na C&A, acotovelar as pessoas e esculhambar aquelas que ficam estateladas no meio da rua, seja tomando casquinha do Duda's Burger [que custa R$ 0,99 e é uma droga] ou namorando as TVs de LCD nas vitrines da Insinuante.

Eu e minha mãe passamos um pouco longe dessas intenções - muito embora a rainha do meu lar, aqui e alí, parasse para ver o preço dos DVDs. Fomos na rua Pedro Pereira, famosa por suas lojas de artigos eletrônicos, comprar a bateria do telefone sem fio. Aproveitei para inaugurar meu cartão de crédito novo [artigo maldito que acaba com as nossas finanças, mas que já me tirou do sufoco no paranóico aeroporto de Heathrow, em Londres].

Mãe teve que resolver outros problemas e me largou sozinha no Centro. Confesso que fui namorar as câmeras digitais, mas numa rua menos movimentada, para não ser alvo das pragas do povo, e comprar chinelo de dedo de R$ 10 naquelas lojas de calçados da Floriano Peixoto. Novamente, saco a arma mais perigosa da minha bolsa: o cartão - a essas alturas, sem peso na consciência. Depois, fui comprar um mini dicionário de português, porque todo jornalista que se preza tem que estar em dia com a língua materna.

Com minhas sacolinhas, fui para a Praça do Ferreira. Eram quase duas da tarde e eu procurava um lugar à sombra para sentar. Os bancos da praça estavam lotados, entre quem, atufalhado de pacotes, parou para descansar e quem jogava conversa fora. Quando encontrei espaço, sentei e parei de pensar. Sozinha, não tinha livro para ler e achei por bem [não por precaução] não pegar o mp3. Simplesmente, achei melhor ficar ouvindo o Centro. O arrastar das chinelas no chão de pedra e o farfalhar das sacolas de compras eram constantes. Meninos e homens nos olhavam nos olhos de quando em vez, seja pedindo uma ajuda ou vendendo marujinho.

As duas amigas do meu lado conversavam sobre a despedida de uma delas - chamada Cecília, a propósito - do emprego. Os dois vendedores da Insinuante, do outro lado, fofocavam do amigo que namorava uma garota só porque ela o sustentava. "Eu só namoro uma menina se eu achá-la bonita e interessante", disse um deles, orgulhoso de sua índole. Também falavam mal de um pedinte, que sempre fica deitado sobre um pedaço de papelão enfrente ao Cine São Luiz, hoje SESC Luis Severiano Ribeiro, julgando-o mentiroso e farsante.

Naquele banco lotado, fiz-me de invisível para observar as pessoas que cruzavam a praça - gente de todos os jeitos -, todas tão donas de si, tão preocupadas com as compras de fim de ano que nem se davam conta de uma necessidade importante, que é a de falar e ouvir. Disso, toda cidade é diversa e, às vezes, a gente nem se toca.

Esqueçamos o barulho das sacolas e a zuada das lojas. Vamos parar para sentar nos bancos da Praça do Ferreira e falar da nossa rotina, das coisas que estão à nossa volta. Elas fazem parte de nós. O Natal passa, a correria passa, as roupas e sapatos se estragam. E nossa alma, como fica?

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Todo mundo em cima

Nunca tinha encontrado a prefeita Luizianne Lins até o mês passado, quando a vi na Câmara Municipal. Como sempre, chegando atrasada nos eventos - isso quando ela vai a eles -, os jornalistas foram todos ao seu encontro no hall atrás do plenário. O evento dava conta da formação de uma comissão GLBTTT (para quem ainda não conhece a nova sigla, Gays Lésbicas, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Transgêneros - os Ts não necessariamente nessa ordem), mas as perguntas iam além, muitas abordando a possível reeleição (pergunta básica de todo jornalista de política).

Naquele momento, estava somente de passagem pelo local para pegar a repórter Déborah Vanessa, também estagiária do jornal O Povo (eu vinha de uma pauta no bairro Lagoa Redonda) e não interagi com Luizianne. Já hoje foi-me dada a pauta do lançamento do pacote da habitação de 2008, em que ela assinaria os contratos dos seis projetos a serem executados. Minha missão, porém, foi estendida a pedido do jornalista Eliomar de Lima, que me incumbiu de indagar à prefeita qual a sua escolha nas eleições do PT estadual.

Eram umas 17 horas quando Luizianne chegou para o evento marcado para as 16 - atraso razoável... Tão logo botou o pé na sala VIP do Ginásio Paulo Sarasate, onde acontecia o evento, os jornalista a rodearam. Eu quase faço a clássica de largar a pessoa que entrevistava e sair correndo para chegar na outra. A pessoa era não menos que José Pimentel, deputado federal pelo PT, que me explicava os requisitos para obras entrarem no orçamento da união. Gentil e compreensivo, ele percebeu que eu queria ouvir a prefeita.

O resto da imprensa se dera por satisfeita, mas eu sai caminhando ao lado de Luizianne para cumprir minha missão. Segui-a até a entrada do palco, no que ela foi me dizendo o que está postado no blog do Eliomar de Lima.

Palco e alambrado

Havia muita gente no ginásio - tanto quem vai ser benficiado pelos projetos quanto quem ainda não foi contemplado. A maioria querendo agradecer e outros querendo cobrar. Mas o destaque ficou para os primeiros. "Essa é a prefeita do povo, prefeita do povo", gritava uma mulher na direção de Luizianne. No final, juntaram-se algumas dezenas de pessoas perto do alambrando segurando papelzinhos dobrados. "Eu pedi um emprego para ela, escrevi meus dados no papel", disse uma moça. Já uma senhora disputava o espaço do gargarejo estendendo a mão para a prefeita. "Fui só pegar na mão dela, acho ela linda."

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Que &%^@# é essa???

Anteontem, dia 22, foi o primeiro dia de atividades do Ronda do Quarteirão nos bairros que foram selecionados para o projeto piloto - reparem que eu até mudei a enquete... E os leitores fortalezenses acordaram hoje confusos. Afinal, o Ronda passou ou não no Bom Jardim? Segundo O Povo, sim, e despertou a curiosidade e a esperança da população daquele bairro. Já de acordo com o Diário do Nordeste, só passou lá para o fim do dia e frustou as pessoas. Afinal, o que foi que aconteceu?

No jornalismo, trabalha-se com a retratação da realidade - temos de reportar aquilo que vemos, acompanhamos e presenciamos. Parece-me que as duas repórteres - Raquel Chaves, do O Povo, e Nathália Lobo, do Diário do Nordeste, viram duas realidades completamente diferentes. Confesso que fiquei muito intrigada com essa situação e ainda continuo cheia de dúvidas.

Não é a primeira vez que os dois jornais lançam duas faces diferentes de um mesmo mote. Outro dia, isso aconteceu com a ida do secretário de Segurança Pública, Roberto Monteiro, à Assembléia Legislativa. Para O Povo, a manchete foi o anúncio de um pacote de reformas no setor; para o Diário do Nordeste, o secretário previu grave crise na área. Foram enfoques diferentes, visto que o secretário tratou de ambas as coisas, sendo que os repórteres optaram por manchetes diferentes.

Mas o caso do Ronda foram antagônicos: uma repórter viu o Ronda, a outra não viu. Finalizo o post da forma como comecei: que &%^@# é essa???

Leia as matéiras do O Povo e do Diário do Nordeste e tire suas próprias conclusões

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Para que serve um assessor de imprensa?

Para facilitar, mediar a comunicação entre a imprensa e o órgão que ele assessora, basicamente. Não fosse o assessor, o caminho até conseguir uma entrevista com o presidente de uma empresa seria mais longo.

Mas o assessor também pode perverter todo o significado dessa profissão e da palavra que a significa e se tornar inacessível - ainda bem, esses são raros, mas valem por dez em matéria de chateação.

Como repórter, devo ter sido mal acostumado com assessores extremamente acessíveis, daqueles para quem se liga diversas vezes em uma hora, se pede as coisas mais complicadas e os detalhes mais precisos; daqueles que nunca desligam o celular e nos fornecem o número dos assessorados. Para mim, mesmo distantes da loucura das redações, um assessor que trabalha dessa maneira continua na peleja de ter hora para entrar, mas nunca para sair - intrínseca ao jornalismo.

Voltando aos assessores inacessíveis, que valem por dez em matéria de irritação. Não consigo conceber um assessor a quem um repórter recorra e se saia com a seguinte pérola: "não estou mais no meu horário de trabalho." Seria a mesma lógica que um repórter usaria na redação para deixar a matéria incompleta e ir embora após o término de seu expediente - deixando claro que não quero tocar na questão de horas extras ou banco de horas. É uma questão de profissionalismo, assim de tudo - coisa que eu mais prezo, mas quero e mais espero na minha profissão.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Ronda do Quarteirão e as "frescuras de rabo"

Alguém lembra quando o Ronda do Quarteirão foi anunciado? E a primeira data em que ele deveria ter começado? Não lembro e não tive saco para buscar no Google. Mas a verdade é que já faz tanto tempo que qualquer coisa que se refira ao famigerado programa chama a atenção. Uma vez foi o desfile secreto dos modelos das fardas que seriam escolhidas - propostas por estudantes de Estilismo e Moda que participaram de um edital lançado pelo Governo - e ontem foi a gravação do comercial.

Os dois momentos aconteceram envoltos de mistérios: no primeiro, a imprensa não pôde participar e fez-se segredo sobre o modelo escolhido [espectadores do desfile declararam que foi um cáqui, tradicional] e no outro nenhuma informação foi dada pelo major que supervisionava a gravação [que não quis dizer o nome e ainda disse que estava passando por lá e parou para olhar]. Além de tudo, ainda solicitaram ao repórter fotográfico do O Povo, Dário Gabriel, que apagasse as fotos - foi feito, mas o ato é reversível nas modernas câmeras digitais profissionais e hoje a foto estampa a capa do jornal.

Ora, mas o Ronda não é direcionado ao povo? Então porque não dar esclarecimentos e informar os procedimentos nesse meio tempo em que o programa não é lançado? Fico p... da vida enquanto repórter quando esses oficiais não querem falar, mas mais p... ainda quando eles escondem da população o que estão fazendo com o dinheiro público - afinal, foi com esse dinheiro que eles compraram Hilux com câmbio automático e bancos de couro, mandaram fazer fardas azuis-bebê com boinas, contrataram uma produtora pra fazer o vídeo e outras coisas que eles fazem pelo Ronda com o dinheiro público e mantêm em segredo.

Leia a matéria que saiu hoje no O Povo sobre a propaganda do Ronda do Quarteirão

A cidade desigual

Não, minha intenção nesse título não é falar sobre as desigualdades sociais que existem em toda metrópole. Essa desigualdade a que me refiro poderia mesmo ser literal se fosse possível colocar Fortaleza numa balança: o lado leste pesaria mais que o oeste pela grande quantidade de equipamentos culturais e serviços lá existentes.

O fenômeno é histórico e tende a continuar. Com o anúncio da construção do novo Centro de Convenções na avenida Washington Soares - e não no Centro histórico, como havia sido dito anteriormente -, a discussão tomou fôlego.

O assessor da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Infra-Estrutura (Seinf), Marcelo Albuquerque, disse em reunião na Câmara Municipal dos Vereadores que a cidade tem uma dívida histórica com a região oeste. Fazendo paralelos entre os dois lados, dá para perceber que o lado leste é onde ficam os equipamentos que simbolizam morte: o cemitério São João Batista e o Instituto Médico Legal (IML) - profético, não?

Agora estão dizendo que o Centro de Feiras e Eventos - outro equipamento - pode ser instalado no Centro. É evidente que a área oeste precisa de melhorias para abrigar espaços que concentrem muita gente. É uma questão de vontade política dar atenção a este espaço tão esquecido.

Quando passo no Grande Circular 2 pela avenida Radialista Lima Verde, fico imaginando como seria lindo passear pelo calçadão da Barra do Ceará e ver tantas outras pessoas admirando aquele lugar. Quantas pessoas devem conhecer o cruzeiro de Santiago, que fica no Pólo de Lazer da Barra do Ceará? Será que esse monumento que simboliza a chegada de Martim Soares Moreno na terra que mais tarde se chamaria Ceará consta nos catálogos de turismo?

Será que o governador e seus secretários só passam pelo lado oeste quando se encaminham para as praias? Assim como Ceará não é só Fortaleza, Fortaleza também não é só zona leste.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Ventos que trazem más notícias

Era uma comecinho de tarde de quarta-feira quando o acaso me levou à Praça da Bandeira. Eu nem tinha almoçado ainda e me aguentava em pé graças a uma barrinha de cereal. Precisava cumprir minha tarefa de repórter, assim como outros que já estavam lá quando cheguei. Todos aguardavam um helicótero que, dentro em breve, rasgaria o céu limpo e pousaria no meio da praça. Todos: eu, outros repórteres, fotógrafos, cinegrafistas, curiosos [alguns até sem saber o que iria acontecer], policiais, socorristas.

O barulho das hélices surgiu repentinamente e a aeronave voava baixo. Foi pousando no meio da praça e provocando uma ventania que espalhou areia e folhas sobre as pessoas. O socorristas correram com a maca até lá, os cinegrafistas e os fotógrafos foram atrás; o povo seguiu o exemplo.

Eu e os demais repórteres ficamos afastados, esperando. Cheguei um pouquinho mais perto, indignada com a falta de consciência das pessoas. Havia até uma mulher gravando com uma câmera de celular! "Gente, vamos afastar! A vítima tem que respirar!", gritou um senhor lá da borda da calçada. Uma mãe pegou sua filhinha pelo braço e a levou embora. "Você não pode ver essas coisas não. Ela é uma bebezinha igual a você", disse a senhora.

Pouco tempo depois, os socorristas corriam com a maca pela praça em direção a uma das ambulâncias. O vento soprava e emaranhava os meus cabelos, mas os dela, uma criaturinha de apenas 10 anos, estavam estáticos sobre a esteira branca. A face morena sob o sol, apesar da testa inchada, parecia dar-lhe vida - algo que parecia querer abandoná-la. A mim, tudo soava onírico.

A ambulância seguiu para o Instituto Dr. José Frota [IJF] e nós, repórteres, corremos pelas calçadas até chegar lá - eu já desperta do que achava ser sonho. Na porta da emergência, ainda presenciamos outras crianças chegarem em ambulâncias vindas dovizinho município de Beberibe, com bracinhos e perninhas machucados pelas telhas e madeiras que caíram sobre eles poucas horas antes na escola em que estudam.

O chefe de equipe da emergência, Mardônio Salmito, disse ter esperanças da recuperação da menina que viera pelos céus. "As crianças sempre respondem melhor". Hoje à tarde, as palavras de outro chefe de equipe, Gersivam Gomes, foram diferentes. "Grave, grave e grave", disse ele a respeito do estado de saúde da menina.

Aos que têm fé, reza. E talvez o nome Francisca venha daí. Algumas mães batizam seus filhos com esse nome quando eles nascem com alguma doença e se curam. A esperança é de que a promessa feita há 10 anos possa se renovar agora e faça Francisca voltar a brincar.

Nessa tarde, mulheres cantavam na capela do IJF e suas vozes ecoavam pela entrada do hospital. Alí encostada no corrimão, aguardando o carro que me levaria de volta à redação, eu escondi o crachá sob os braços cruzados e chorei.

Leia as matérias que saíram nos jornais O Povo e Diário do Nordeste

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Para criancinhas e criançonas

Imagine uma revista em quadrinhos em que um dos personagens é negro e chamado pelos amigo de "preto", ou uma ilustração com ditados em que consta a imagem de uma mulher levando um murro de um homem e, embaixo, lê-se "Pancada de amor não dói". Ou mesmo uma tirinha que traz um garoto perguntando a um senhor que teve uma das pernas amputadas se o chinelo que achara pertencia a ele. Se você está pronto para disparar todos os discursos politicamente corretos, esqueça. Trata-se de produções do artista Luiz Sá que estão expostas no Centro Cultural Banco do Nordeste.

A exposição acontece por evento dos 100 anos de nascimento do artista, que morreu em 1979. Dentre as obras expostas, vários quadrinhos dos danados Reco-reco, Bolão e Azeitona, mostrando a amizade e a arenga entre eles. Não dá para sair da exposição sem dar gostosas risadas das historinhas e sem admirar exemplares das publicações do artista. Também não dá para passar por lá sem curtir o Pinga-fogo, o detetive errado, com histórias que profeciam a série CSI.

Algumas ilustrações parecem prever o momento em que vivemos, como "Fortaleza, como te vi e te vejo agora", que mostra, em um plano, casinhas, datado de 1929, e noutro, altos prédios, com a data de 1978 - e muito atual em 2007.

É massa também sentar no banco do fundo de uma salinha escura onde passa um documentário sobre Luiz Sá, produzido nos anos 1970 por Roberto Machado Jr. e recentemente recuperado.

SERVIÇO
Exposição Luiz Sá - 100 anos
até 31 de outubro no Centro Cultural Banco do Nordeste
Rua Floriano Peixoto, 941, Centro
Telefone: 85 3464 3108

*imagem retirada do site Gibindex

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Que lindo palhaço!


Em plena tarde primaveril - embora o sol de verão estivesse truando lá fora -, um palhaço brincava entre violinos e violoncelos. Meigo, gentil, engraçado. Era Orlângelo Leal - ou melhor, Bitovin [referência a Beethoven] escrito do jeito cearense mesmo, como ele explicou -, todo colorido, vestido e pintado à caráter no concerto didático da Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho da Semana da Criança. A apresentação, realizada no Theatro José de Alencar (TJA), também comemorava o selo e o carimbo comemorativos dos Correios aos dez anos da orquestra.

Rodopiando, saltando e cantando, Bitovin trazia a platéia, formada por crianças e adolescentes, para junto dos músicos. Falando em cearês puro e simples, fazia aquela cambada de minino dar altas gargalhadas. Ajudando os que subiam para arriscar uns acordes nos instrumentos, deixava-os seguros de que não precisavam harmonizar nenhuma nota: o importante alí era a experiência com os músicos e os instrumentos.

Bitovin - ou será Orlângelo Leal? - é um minino feliz, uma criança linda que gosta de fazer novos amigos - só naquela tarde, foram mais de 300. "A idéia é criar um formato de ouvir música erudita de forma lúdica. O concerto abre oportunidade para que as crianças conheçam elementos da música que não estão na mídia", disse nos bastidores do palco do TJA. O músico e ator compõe a banda Dona Zefinha.

Curiosidade

Dependendo do número de músicos e do volume do som, a orquestra recebe sua classificação. É o que explica o regente da Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho, Márcio Landi. Uma sinfônica, por exemplo, necessita de um grande volume de som. Já a de câmara, nem tanto. O nome, aliás, deriva do italiano e significa quarto ou aposento. Ou seja, a orquestra de câmara é apropriada para tocar em ambientes pequenos. Formada basicamente por instrumentos de corda, a orquestra de câmara remonta ao período barroco [século XVII]. Sua sonoridade, conforme o regente, é mais intimista.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Jornalismo e violência?


Tropa de Elite pode ser a bola da vez no cinema e no mercado de DVDs piratas, mas os fatos do filme, se contados em forma de notícias, não causariam grande alarde. Aliás, em vez da euforia do público, desdém, ou mesmo reclamação, fosse a reação dele. É que a idéia de que o povo gosta de ler preferencialmente sobre fatos violentos está com os dias contados [o jornal que continuar nesse viés pode estar assinando o contrato de falência].

É óbvio que a questão da segurança pública tem de ser pauta constante nas mais diversas mídias - na TV mais ainda. De fatos sobre mortes, assaltos e outros crimes, as pessoas estão saturadas e virando zumbis do Barra Pesada, do Cidade 190 e lá vai. Mas a cobertura ainda está evoluindo.

Qual das duas manchetes você prefere: "Casal é assaltado na avenida Raul Barbosa" ou "Aumenta números de assaltos na Raul Barbosa"? Você prefere conhecer o fato ou o fenômeno?

A principal questão da cobertura sobre segurança pública está nesse detalhe. Casais assaltados nessa avenida, infelizmente, é fato freqüente. E por que isso acontece? Onde está o policiamento? O que se tem feito para dar mais segurança às pessoas que têm de circular por alí?

É isso o que o leitor e a população esperam de nós, jornalistas: que escrevamos algo que traga noção do que acontece na cidade e que, acima de tudo, esclareça.

Deus os abençõe...


Antes mesmo de 9 horas, o plenário da Assembleia Legislativa estava lotado. Bom para o povo ter seus representante reunidos naquele espaço de onde devem sair decisões importantes... até se descobrir o real motivo: a comemoração do aniversário do presidente da Casa, Domingos Filho. O homi era só sorrisos, todo lisonjeado. Afinal, tinha bolo, o padre rezara a missa dentro do plenário diante do crucifixo gigante pregado na parede e todo o ritual estava sendo transmitido em TV aberta. Cerca de uma hora de programação importantíssima para os brios do deputado e inútil para os três milhões de fortalezenses. Como bem ponderou o jornalista Daniel Sampaio, do O Povo, já pensou se todos os deputados resolverem querer uma festa desse naipe? Pelo menos é um motivo para fazer com que a maioria deles fique no plenário.
Em tempo: já reparararan que a TV Assembléia só usa plano fechado em suas transmissões da sessão? É justamente porque o plenário fica tão vazio que a voz de quem se pronuncia - mesmo usando microfone - chega faz eco. Ontem, depois da festinha, ficaram uns cinco gatos pingados - e mesmo assim, conversando com outros, atendendo o celular...

Minino réi arengueiro

Para completar o dia feliz, ainda teve discussão entre dois deputados. Carlomano Marques (PMDB) e Augustinho Moreira (PV) quase se pegam por causa de um mal entendido - quiçá por causa de besteira. O peemedebista se pronunciava a respeito de uma matéria publicada no Diário do Nordeste que repercutia a declaração do presidente da Câmara dos Vereadores, Tin Gomes, de que a AL discutia mais os problemas de Fortaleza que os do Ceará como um todo e que isso visava atacar à prefeita Luizianne Lins.

No fim desse pronunciamento, chegou Augustinho Moreira, que, mesmo pegando a história pela metade, não titubeou em botar a boca no microfone para dizer que o colega estava usando o tempo da tribuna para atacar Tin Gomes. "Vossa Excelência não sabe ler não?", indagou o outro. Isso feriu profundamente os brios do deputado do PV. "Vossa Excelência está me atacando me chamado de analfabeto! Eu não aceito esse tipo de provocação!", esbravejou, como o dedo em riste. "Não aponte o dedo pra mim não! Se enxerga, rapaz!" Os ânimos ficaram tão exaltados que assessores tiveram de levar Augustinho Moreira para fora do plenário. Minutos depois, correria para ver o que acontecia no corredor. Segundo um assessor da AL, o deputado do PV passou por Carlomano Marques soltando piada quando um dos assessores deste deu um empurrão naquele.

"Ele poderia ter perguntado se eu não tinha lido a matéria, mas não se eu sabia ler", lamentou Augustinho Moreira depois, com os ódios mais abrandados. Domingos Filho ficou de chamar os dois para a conversa e dar-lhes um bolo de palmatória em cada mão.
* foto retirada do site da Assembléia Legislativa

domingo, 7 de outubro de 2007

Imposição

Essa semana, minha televisão deu problema: não aumenta nem diminui o volume e não muda de canal. Fica o tempo todo na Globo. A estúpida máquina me obriga a assitir o que ela quer! Já apertei que afundei o botão, mas ele é implacável: só quer ficar na Globo. Pareceu-me estranhamente coincidente isso acontecer no período de renovação das concessões e num momento em que a emissora perde pontos de audiência.

A situação que pra mim é obrigatória, é uma das poucas opções das cerca de 30 famílias que moram no meu quarteirão e de milhares da minha cidade. Se eu tivesse de ir na budega comprar uma coisa e não quisesse perder o capítulo da novela, era só apurar o ouvido ao passar na frente de cada uma das casas e ouvir de pedaço em pedaço o diálogo dos personagens.

Mas de uns anos pra cá, as coisas mudaram. Eu passo na rua e ouço - quando não vejo, já que alguns moradores gostam de pôr a televisão na calçada - os mais diversos sons, não mais a orquestra afinada da novela das oito. Filmes, shows... tem gente desistindo de assistir à Globo - e aos outros canais também. Não se percebe que o telespectador mudou, mas as emissoras continuam fazendo a mesma coisa todos os anos: a menina bonitinha da escola moderninha sempre fala as mesmas coisas; o vilão de olhar brilhante também.

Como já sei a história toda de cor - e parece que outras pessoas também -, prefiro desligar o diabo da TV, estranhar o silêncio da casa e ouvir a zuada dos meninos que brincam no meio da rua.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

No deslizar do ônibus, uma música

- "Hoje eu tive um sonho que foi o mais bonito
Que eu sonhei em toda a minha vida
Sonhei que todo mundo vivia preocupado
Tentando encontrar uma saída
Quando em minha porta alguém tocou
Sem que ela se abrisse ele entrou
E era algo tão divino, luz em forma de menino
Que uma canção me ensinou"
Vai, maxo. O lá lá lá - exigiu o homem de camisa bicolor que empostara a voz pra cantar a estrofe.
- Lá lá lá lá lá lá... - obedeceu o outro, sentado logo atrás, sem muita empolgação.

Eles não seguiam nenhuma música que tocava no rádio. Simplesmente, eles somaram ao barulho do motor do Grande Circular 2 suas vozes. Em um ambiente em que as pessoas escondem suas expressões e fingem não ouvir nada com seus mp3 nos ouvidos, a canção que eles cantavam fez com que alguns virassem o pescoço pra olhar e outros rissem. O ônibus estava vago e a voz empostada do cantor mais o jeito envergonhado do amigo ecoaram.

- "Tinha na inocência a sabedoria
Da simplicidade e me dizia
Que tudo é mais forte quando todos cantam
A mesma canção e que eu devia
Ensinar a todos por ali
E quantos mais houvessem para ouvir
E a fé em cada coração, na força daquela canção
Seria ouvida lá no céu por Deus"
Agora o lá lá lá - indicou de novo o senhor
- Lá lá lá lá lá lá... - cantou o amigo de trás, meio desafinado. Ele parou e não cantou o restante do coro.
- Vai, maxo, serve pelo menos pra alguma coisa - reclamou o senhor

sábado, 29 de setembro de 2007

Mais uma noite

Só uma noite, uma rara noite em que dá pra sentar e ler um monte de coisa, conversar com os amigos - nem que seja pelo meio frio da tela do computador. Tem sido assim a rotina dura de estudos e estágios pra quase todo mundo; as amizades se resumem numa lista de pessoas online, infelizmente.
Cadê aqueles intervalos de aula? E as escapulidas da sala? Sinto falta... A responsabilidade às vezes é uma besteira que nos impede de sermos inocentes felizes.